Biografìa:
Paulo Martinez Fernandez (1959-2001). Deixou um conjunto de obras – aproximadamente oitenta peças – que o posiciona, sem dúvida, como um dos mais brilhantes desenhistas brasileiros. É compreensível que sua produção, surpreendente pelas altas qualidade e originalidade, tenha sido limitada, já que o artista, vítima de câncer aos 41 anos de idade, realizava trabalhos de complexa elaboração e extrema meticulosidade. Tendo trabalhado com vários meios – óleo, aquarela, etc. –, a partir de 1983, no entanto, passou a dedicar-se exclusiva e intensamente ao desenho a grafite, técnica que elegeu, que desenvolveu até o final de sua vida e que elevou ao seu limite. A obra deixada por Paulo Martinez contribui certamente não apenas para a história da arte brasileira mas também para a internacional, dado que ele é um dos raros artistas de hoje que se desvencilharam dos ditames da arte moderna, trabalhando em uma nova direção e obtendo resultados que se diferenciam de quase tudo aquilo que foi feito no século XX. Autodidata, essa figura singular – tanto como artista quanto como ser humano – construiu sozinho a sua obra e sabia muito bem o que queria e o que fazia. Não sofreu influências externas, nunca se vinculou a nenhum grupo ou escola de moda, nunca se rendeu ao mercado. Sua única preocupação era fazer, construir. Ser humano de refinada sensibilidade e desconsertante inteligência, Paulo deixou grande saudade entre seus amigos e familiares. Extremamente lúcido e dono de humor único, possuía um reservatório de frases e expressões espirituosas que levantavam o astral de qualquer um de seus amigos em momentos mais difíceis. Lembro-me, por exemplo, da frase “Se não fosse eu, quem seria de mim?”, que ele usava em várias ocasiões, como uma espécie de lema. Além de, pela inteligência, provocar inevitavelmente o riso de quem estava próximo, a tonalidade de sua voz, ao proferir estas palavras – de um modo muito especial e impossível de ser descrito –, acompanhada de seu jeito e de seu sorriso, desencadeavam uma espécie de vibração que só quem o conheceu pessoalmente pode entender (não sei se há registro, em filmes ou em vídeos, de falas suas). Na maior parte do tempo, vivia em uma situação financeira limite, e, apesar de tudo, não se importava, não se rendia, embora fosse constantemente assediado por ilustradores publicitários, que o convidavam para trabalhar, e por pessoas que viam nele um grande retratista. Sem dúvida era um grande retratista, mas só fazia retratos quando não tinha dinheiro nem mesmo para comprar material de desenho. Não tinha tempo, estava construindo a cada dia, com grande atenção e paixão, a sua própria obra, da qual não se desligava um minuto sequer. Acordava e trabalhava até à noite em seu ateliê, absorvendo-se com a profundidade de quem procura minúsculos grãos de ouro em um monte de areia sustentado na mão – e é impressionante que esse seu solitário e intenso processo quotidiano de trabalho tenha se mantido por tanto tempo (dezessete anos).
Paulo Martinez Fernandez (1959-2001). Deixou um conjunto de obras – aproximadamente oitenta peças – que o posiciona, sem dúvida, como um dos mais brilhantes desenhistas brasileiros. É compreensível que sua produção, surpreendente pelas altas qualidade e originalidade, tenha sido limitada, já que o artista, vítima de câncer aos 41 anos de idade, realizava trabalhos de complexa elaboração e extrema meticulosidade. Tendo trabalhado com vários meios – óleo, aquarela, etc. –, a partir de 1983, no entanto, passou a dedicar-se exclusiva e intensamente ao desenho a grafite, técnica que elegeu, que desenvolveu até o final de sua vida e que elevou ao seu limite. A obra deixada por Paulo Martinez contribui certamente não apenas para a história da arte brasileira mas também para a internacional, dado que ele é um dos raros artistas de hoje que se desvencilharam dos ditames da arte moderna, trabalhando em uma nova direção e obtendo resultados que se diferenciam de quase tudo aquilo que foi feito no século XX. Autodidata, essa figura singular – tanto como artista quanto como ser humano – construiu sozinho a sua obra e sabia muito bem o que queria e o que fazia. Não sofreu influências externas, nunca se vinculou a nenhum grupo ou escola de moda, nunca se rendeu ao mercado. Sua única preocupação era fazer, construir. Ser humano de refinada sensibilidade e desconsertante inteligência, Paulo deixou grande saudade entre seus amigos e familiares. Extremamente lúcido e dono de humor único, possuía um reservatório de frases e expressões espirituosas que levantavam o astral de qualquer um de seus amigos em momentos mais difíceis. Lembro-me, por exemplo, da frase “Se não fosse eu, quem seria de mim?”, que ele usava em várias ocasiões, como uma espécie de lema. Além de, pela inteligência, provocar inevitavelmente o riso de quem estava próximo, a tonalidade de sua voz, ao proferir estas palavras – de um modo muito especial e impossível de ser descrito –, acompanhada de seu jeito e de seu sorriso, desencadeavam uma espécie de vibração que só quem o conheceu pessoalmente pode entender (não sei se há registro, em filmes ou em vídeos, de falas suas). Na maior parte do tempo, vivia em uma situação financeira limite, e, apesar de tudo, não se importava, não se rendia, embora fosse constantemente assediado por ilustradores publicitários, que o convidavam para trabalhar, e por pessoas que viam nele um grande retratista. Sem dúvida era um grande retratista, mas só fazia retratos quando não tinha dinheiro nem mesmo para comprar material de desenho. Não tinha tempo, estava construindo a cada dia, com grande atenção e paixão, a sua própria obra, da qual não se desligava um minuto sequer. Acordava e trabalhava até à noite em seu ateliê, absorvendo-se com a profundidade de quem procura minúsculos grãos de ouro em um monte de areia sustentado na mão – e é impressionante que esse seu solitário e intenso processo quotidiano de trabalho tenha se mantido por tanto tempo (dezessete anos).
No hay comentarios.:
Publicar un comentario